Compartilhando, mais uma vez, um texto antigo. Este texto motivou, como se pode perceber, o nome deste blog. =)
“Quando pequena, consumindo meu desjejum num restaurante qualquer, testemunhei uma cena de que minha memória jamais viria a esquecer: lembro-me de uma mulher, em condições miseráveis, sentada na calçada oposta ao restaurante, alimentando seu bebê.
Deixando seus poucos pertences ao lado do prato de comida, atravessou a rua e nos perguntou onde conseguir comida para seu filho. Seguindo a orientação de meu pai, a mulher foi à porta do restaurante e refez seu pedido ao garçom mais próximo. Nesse ponto, minha desesperança para com o homem recuperar-se de sua alienação torna-se justificável: um cachorro deveras faminto acabou por comer a comida deixada na rua, fazendo com que a mulher corresse na tentativa de resgatar algo. Esse fato causou riso geral no estabelecimento, com poucas exceções. Minha ingenuidade impediu-me de demonstrar qualquer outro sentimento senão compaixão. Começo aqui minha digressão.
A idéia de utopia existe na mente humana desde tempos longínquos. E, considerando a idéia atual de utopia, buscar a felicidade tornou-se sinônimo de engordar a conta bancária. Contudo, minha principal intenção não é criticar o capitalismo. Retomando a idéia desse parágrafo, como esta mulher, considerando-a como realista ou até mesmo pessimista, poderia planejar um futuro melhor? Após esta humilhação, como se sentiria?
Segundo Schopenhauer, o homem, como ser racional que é, já nasce com a certeza da morte e consolam-no os sistemas religioso e filosófico. Assim, a mulher já teme a morte e não tem esperanças de um futuro digno; mas, mesmo assim, luta pela sobrevivência de seu filho. Porque ela o manteria vivo se este não terá condições de uma vida futura decente? Por egoísmo? Pelos laços sanguíneos? Pelo sonho de um futuro melhor não pode ser, afinal, em sua situação, não é permitido sonhar, o que a faz uma mulher realista.
_Sonhar faz parte da natureza humana_ disse um filósofo de fim de semana.
_Essa mulher desconhece, provavelmente, a frase “Continue vivendo e dias felizes virão, coisas boas acontecerão” _segundo um leitor qualquer.
_Pois eu digo que não faria uma mínima diferença se ela a soubesse. Ela vive, mas sua única intenção é sobreviver, faltam-lhe esperanças. Sonhar…Quem a colocou nessa situação?_digo.”
Digressão contínua 